|
        Ao longo de todos os séculos da humanidade, misticismo e matemática se confundem a ponto de
não podermos determinar se é misticismo que ocorre na matemática, ou se é a matemática que ocorre no misticismo.
Em tempos bem antigos, já se vê muito claramente o embricamento entre explicações matemáticas e filosóficas, como
por exemplo, na Filosofia Pitagórica, em que a harmonia universal-cósmica se combina com a harmonia numérica seguindo proporções, de modo
que alcançaria na pessoa a harmonia ética. A música estaria relacionada a estas proporções,
sendo, para Pitágoras, um meio de purificação do corpo e da alma (Lorente 1987 p.15-16).
O número quaternário tetáctris era considerado a "fonte da inexaurível natureza". A relação entre o número, música e
natureza se estabelecia da seguinte forma: o universo é ordenado segundo uma afinação. A afinação é um sistema de três acordes,
o de quarta, o de quinta e o de oitava, e as proporções destes três acordes encontram-se nos quatro números que formam o tetractis:
1,2,3 e 4. (Kirk & Raven & Shofield 2010 p.243). Pitágoras viveu no século VI a.C. Mais tarde, em fins
do século III d.C, o romano Porfírio escreveu uma pequena biografia de Pitágoras onde
comentou essa indissociabilidade matemática-misticismo:

|
O número quaternário, tetractis, que é desenhado em forma de pirâmide.
Pitágoras considerava "perfeito" por ser a soma dos quatro primeiros: 10 = 1 + 2 + 3 + 4.
|
|
|
        Diz-se, de fato, que Pitágoras foi o primeiro a introduzir essas crenças na Grécia. E de tal modo atraiu a atenção de
todos que, com uma única exposição que ele desenvolveu ao desembarcar na Itália, como diz Nicomacus, ele cativou mais
de mil com suas palavras, a ponto de não voltarem mais para casa, mas, na companhia de seus filhos e mulheres,
construíram uma grande sala para reuniões comuns e fundaram a chamada por todos Magna Grécia da Itália, recebendo
leis e regulamentos para não realizar um único ato à margem delas, como se preceitos divinos estivessem envolvidos.
Eles também consideraram comuns suas propriedades e a Pitágoras incluiram-no entre os deuses. Porque a única coisa
que eles manipularam, entre a ciência esotérica existente na seita, atraente, de outro modo, e motivadora de
contribuições abundantes concernentes ao estudo da natureza, a saber, o chamado número quaternário, o utilizaram
para seus juramentos, ao invocar todos a Pitágoras como um deus e em todas as afirmações que fizeram.
(Porfírio p.35-36)
|
|
|